Ela observava as flores de plástico que nunca pareceriam reais:
– De onde você o conhecia?
Sem olhar para o interlocutor, ela se lembrou de quando ele lhe deu uma carona. Tinha ficado impressionada por ele ser jovem, simpático e ter um chofer. O apartamento era clássico e moderno ao mesmo tempo, parecia saído das páginas de uma revista de arquitetura.
Se beijaram muito ate que caíram na cama. Tinha lido 50 Tons de Cinza e sentido uns formigamentos em algumas partes. Com ele, por meio dele, vivenciou o livro, indo além. Ela urrava, sofria, implorava, arfava, descontrolava.
Perderam a noção do tempo, amanhecia:
– O que você está fazendo aqui? Que compromisso de trabalho? – ela perguntou.
– Não. Tenho câncer. Pela segunda vez.
Ela virou o pescoço na direção do desconhecido que repetiu a pergunta:
– Me enganei. Estou no funeral errado. Me desculpe.
José Eduardo Brum