Lâmpadas queimadas

Lâmpadas queimadas

Logo que mudou para o novo apartamento, a lâmpada do corredor queimou. Tinha acabado de arrumar a casa, anos de espera para construir, meses para acertar os detalhes, e na primeira semana, uma lâmpada queimada. Como não tinha se acostumado com o corredor aceso, aquilo passou e aquele pequeno espaço ficou escuro.

Sobre o espelho do banheiro havia duas lâmpadas, e meses depois, uma queimou. Preguiçoso, achou melhor esperar o dia que queimasse outra, assim compraria as duas iguais. Ficou com uma só.

Na sala de dois ambientes, a luz do lado onde havia televisão queimou, mas o clima de cinema deixou a luz queimada por algum tempo, e onde havia mesa para comer estava devidamente iluminado.

Foi na tarde de sábado que caiu a chuva e piscou a cidade inteira, queimando de tudo um pouco. Prevenido, desligou os aparelhos eletrônicos da tomada e esperou a tempestade ir embora. Foi, levando nuvens, água e as lâmpadas da casa, com a única sobrevivente sobre o espelho do banheiro. Para onde fosse, tinha que levar a lâmpada e colocar num bocal: para cozinhar, depois na sala para comer, de volta à cozinha para lavar, no banheiro para escovar os dentes, no quarto para ler. No domingo, por conta dos estragos da chuva, nada no comércio funcionou e já podia sentir as pernas doendo de tanto subir escada para trocar lâmpada.

Gustavo Burla

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