Caroço

Caroço

– Pega na minha bunda.

– Hã?

– Anda vai. Aperta.

– Pode? Mas a gente acabou de se conhecer. E você disse que era moça decente, de respeito.

– Ah, só apertar pode. Anda, vai! Ai, que delícia!

(…)

– O que é isso?

– O quê?

– Na sua bunda. Tem um caroço na sua bunda. Sente!

– Ixi, tem mesmo. Está molinho, se movendo… Dói um pouco. O que eu faço?

– Nāo sei. Nāo sou médico.

– Ué. Você disse que fazia medicina.

– E você disse que era modelo, mas está cheia de varizes.

– Cala a boca! Eu não quero mais você.

– Desculpa.

– Desculpado, mas dá pra tirar a mão da minha bunda.

– Claro. Foi mal. E onde deixo você?

– Como não quero te ver mais e nem quero que saiba onde eu moro, me deixa no pronto socorro.

– Eu posso te fazer companhia. Afinal, fui eu que achou o caroço.

– Nāo, obrigada. Só me deixa lá.

(…)

– Até mais. Obrigada pela carona.

– Boa sorte. E anota meu telefone.

– Pra quê?

– Se precisar de alguém pra vasculhar seu seio, pra procurar outro caroço.

– Vai pra p…

– Ih, você mentiu também. Não é moça de respeito. Tem boca suja.

– Ah, some, antes que eu mande enfiarem meu caroço no seu…

(…)

– Que saco! O que você está fazendo aqui? Isso é perseguição, cara.

– Estou com “remórcio”. Vim te pedir desculpa.

– É remorso que fala. E me esquece. Estou muito preocupada. Me deixa em paz, sozinha esperando.

– Por que está nervosa?

– E se eu morrer por causa do caroço?

– Você não vai morrer porque você vai se casar comigo.

– Como? Eu acabei de te conhecer e já quer pedir minha mão?

– Sim. Quero cuidar de você.

(…)

– Onde você está indo?

– Embora. E vou sozinho. Achei que o caroço era sério, que você ia morrer e eu ia ficar com sua pensão.

– Quem vai morrer é você pelas minhas mãos, safado.

(…)

– De novo? Vamos mais uma antes de sairmos desse motel?

– Só se o tempo todo você apertar a minha bunda.

José Eduardo Brum

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