A morte é opção

A morte é opção

José resolveu morrer. Assim mesmo: resolveu e pronto. Não escolheu se matar, resolveu morrer. Sentou no canto do sofá e ficou lá, com a boca cheia de dentes, esperando a morte chegar. Chegou à noite, chegou a fome, mas a morte, nada.

Decidiu não mais dormir e morrer de sono. E também não mais comer e morrer de fome. Se comesse, teria sono. Se dormisse, despistaria a fome. Não, morreria dos dois, ou do que chegasse primeiro. Como a morte, nenhum deles chegou.

Optou por morrer de tédio e ligou a televisão. Pulava de canal em canal, sempre encontrando o que ver. Eram muitos canais, tinha TV por assinatura, então resolveu morrer de raiva: ligou para tentar cancelar. No atendimento solícito, conseguiu desconto e mais canais.

Com fome, sono, tédio e sem raiva, José também ficou sem ideia. E nada dá mais sono, tédio, fome e até raiva do que ler sobre um homem sem ideia.

Gustavo Burla

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