Chuva no coração

Chuva no coração

Chovia dentro. Ele chovia dentro. Das nuvens cinzentas descia água por todo o corpo. Os olhos marejados ele justificava com as lentes incômodas, um cisco no vento ou uma história de que lembrava. Quando os olhos secavam, suava, suor doce com cheiro de chuva no verão quente em estrada de terra.

Tinha um coração de ferro. As emoções das histórias lembradas? Mentira. Distinto de um personagem de Brun, sua busca não era por um coração, isso ele tinha. Enferrujado. Passava todo tempo que tinha longe dos outros, de quem queria gostar, mas não conseguia. Suas emoções eram dos personagens que via.

Numa madrugada em que o som dos comerciais rouba a quietude do programa, ouviu: Chega daquela ferrugem indesejada. Até aquele relógio velho que não funcionava desde que sua vó te deu vai voltar a bater. É só esfregar o produto e a casca de ferrugem cai na hora! Tá esperando o quê? Ligue agora e resolva o seu problema de ferrugem! Agora!!!

Ligou. Nem completara a ligação havia tirado o sorriso fingido dos lábios e colocado a pergunta sobre ministrar o remédio.

Gustavo Burla

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