Madrugador

Madrugador

Nasceu de madrugada. Pequeno, acordava com fome e chorava, ou chamava os pais pra brincar quando tinha voz. Era o primeiro a chegar na escola e sempre o mais entusiasmado, já no ritmo do dia enquanto os outros ainda tentavam se livrar da noite. Seu amanhecer era com os pássaros: antes da aurora já estava ativo, cantando, como se tivesse que levantar e cutucar o sol pra ele sair das cobertas.

Quando abriu os olhos naquele dia percebeu que já era, efetivamente, dia. Havia sol no rosto, na cama e no chão do quarto. Um sol que nem se dera ao trabalho de retribuir tão logo nascera. Os pássaros, canalhas, já haviam parado de trabalhar e desaparecido nos sons da cidade. A vida seguia sem ele.

Ficou imóvel no leito, só as pálpebras se moveram enquanto tentava entender que volta o mundo havia dado. Impossível conceber uma realidade que começa tão tarde! Preferiu não arriscar: fechou os olhos e pulou o dia.

Gustavo Burla

Comments are closed.