Quanto custa?

Quanto custa?

Um hospital, era o que todos pediam. Um hospital para a Zona Norte. Não queremos um presídio, nem outro posto policial que não dá conta das nossas mortes, nem um terminal de ônibus. Lidamos bem com nosso transporte suarento e lotado, obrigado. Só não conseguimos acostumar é com nossas dores.

As reivindicações eram sérias – davam ou tiravam voto, que é a língua que as autoridades entendem –, de modo que a obra começou. O terreno escolhido não era bem na Zona Norte, mas vá lá!, também não chegava a ser no Centro, quanto mais na Zona Sul. Pelo menos seria um hospital. Era o que importava.

É claro que levou alguns anos mais do que o esperado. Anos mais que o suficiente para que o menino que um dia jogara bola naquele antigo terreno baldio virasse homem, virasse trabalhador, virasse pai e precisasse de um novo coração. Apesar do atraso, porém, a inauguração do prédio chique de concreto e telhado de vidro chegou junto com a ambulância.

– Bem-vindo – sorriu atenciosa a moça por trás do balcão. – Vou mostrar pro senhor o nosso estoque. Temos corações de todos os tipos: grandes, pequenos, apertados, solitários, partidos. Tudo no cartão dez vezes sem juros.

O último suspiro dele antes de fechar os olhos para o sorriso brilhante de vendedora de loja dela não foi nem de lamento nem de alívio; simplesmente constatação. A Zona Norte não ganhara um hospital. Ganhara um shopping.

Táscia Souza

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