O homem que emprestava livros

O homem que emprestava livros

Certa vez alguém lhe dissera que existem dois tipos de bobos: os que emprestam livros e os que devolvem. Ele se enquadrava nos dois tipos, mas já tinha perdido alguns exemplares por causa do primeiro hábito. Para não ser bobo sozinho e não perder mais nenhum volume, decidiu incentivar as pessoas a devolvê-los a ele. Um incentivo em forma de constrangimento: passou a fotografar cada um a quem emprestava com o respectivo livro em mãos, um verdadeiro dossiê de empréstimos na memória de seu celular.

A estratégia funcionou, o que não o impedia de sofrer da mesma forma. Uma aluna devolveu um tratado de filosofia todo grifado em caneta esferográfica. Um orientando entregou-lhe uma importante teoria de comunicação com as páginas descolando-se pelo fato de terem sido abertas num ângulo superior a 90 graus. Um colega de trabalho deixou uma marca vermelha em um romance-reportagem depois de cismar lê-lo enquanto comia beterrabas (!!!). Até a namorada, num dia de férias na praia, deixou sua coletânea de contos preferida ser arrastada pelas ondas e triplicar de tamanho, inchada de areia e mar.

Foi a última gota — de água salgada, diga-se de passagem — para que desistisse de vez de toda a sua coleção e pesquisasse o preço de um e-reader.

Táscia Souza

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