Atmosfera literária

Atmosfera literária

Ela sentou no banco da praça como fazia todo domingo. Livro de um lado, sanduíche do outro. Horas ali, sob o sol da manhã de inverno, degustando palavras de clássicos da literatura. Sempre uma leitora voraz, mas não menos romântica.

Naquele domingo, uma surpresa: teve companhia. Na praça cheia de diversos comportamentos, um rapaz sentou ao lado dela, não sem antes pedir licença. Ela se encantou com a educação, a beleza e o tamanho do livro dele.

Ele, mais que ela, mergulhava nas páginas do tijolo que sustentava nas mãos. Ela dividia-se entre Shakespeare e o novo companheiro de leitura. Já se sentia íntima, porque ele se movia vez por outra e ela também. Ela lhe voltava olhares e ele, tímido, também. Ela quase chegou a esbarrar nele, não fosse uma rápida mudança de postura do rapaz.

No auge do êxtase, no clímax daquela narrativa dominical, ela fechou o Romeu e Julieta que não conseguia mais acompanhar e puxou o vizinho pelo braço, olhando nos olhos: eu te amo.

Ele, livro desequilibrado, retornou o olhar profundo, fechou o Guerra dos tronos com o marcador no meio e devolveu: foda-se.

Gustavo Burla

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