Detestava sonhar. Se o sonho era bom (valores sociais, não dele), acordava frustrado; se era ruim, acordava assustado. Comentava com os amigos e as respostas iam de “ah, sonhar é muito bom” a “ah, pesadelo é terrível”, nada propositivas.
Uma conhecida disse que sonho era questão de interpretação. Provavelmente alguma coisa feita ou pensada no dia teria reflexo no sonho. Era só lembrar disso ao acordar e pronto, frustração ou susto resolvidos.
Acordou suado no meio da noite, taquicardia, desespero: sonhara que estava todo cagado. Primeiro passou a mão por dentro do pijama para se certificar do sonho. Sim, ficara a bosta com Morfeu, mas o coração acelerado era real.
Pensou que tinha lavado o banheiro na véspera, mas gostava de limpar banheiro, lembrar disso não tirou a sensação da massa pastosa crescendo embaixo dele numa mesa de bar. E que bar era aquele? Para!? Quase gritou no meio da noite.
Celular. Google. Dicionário de sonhos. Descobriu perspectiva de sucesso, fartura, dinheiro, abundância, amizades e vida produtiva. A mente jogava fora as energias negativas.
Desligou tudo, sorriu e seguiu com o sonho de merda adentro.
Gustavo Burla