Sinal

Sinal

A mulher colecionava sinos. Mais do que sinos, na verdade: colecionava vontades de tocá-los. Por isso comprava-os. Por isso pedia-os de presente. Por isso invadia campanários de igrejas em cidades do interior. Por isso um dia, numa pequena estação de uma vila qualquer, dependurou-se na sineta do relógio e obrigou todos os passageiros a correr antes da hora para dentro do trem.

Foi abordada pelos guardas, é claro. Questionada. Interrogada. Qual o objetivo de criar o caos numa pequena estação de uma vila qualquer? Com vergonha de confessar o ímpeto, justificou apenas que fizera um bem aos passageiros: era melhor ter um trem para dentro do qual correr do que não ter.

Táscia Souza

 

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