O fio invisível de Ariadne Miralva

O fio invisível de Ariadne Miralva

O que mais havia nas gavetas eram folhas soltas e cadernos preenchidos com prosa, poesia e eventuais diálogos. Numa pasta secreta do HD externo havia outros tantos rabiscos que ninguém lera. Quando era convidada para publicar, sorria gentil e pensava:

– Careço a ironia do Machado.

– Falta-me a crueza de um Rubem Fonseca.

– Está quase um Joyce, but I don’t have… It.

– Sem musicalidade, Vinícius me mataria!

– Cadê meu spleen, Baudelaire, cadê?!

– De que adianta ter regionalismo se não tenho as cores de Rosa?

– Onde estão minhas paixões shakespeareanas nessa crueza rodrigueana?

– Aqui tem Borges e Bioy Casares, mas nada autêntico…

Pela vida afora ela entrou nesse labirinto recolhendo tantos fios que esqueceu de deixar o seu.

Gustavo Burla

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