Altura da queda

Altura da queda

Da sacada do 37° andar passara horas da semana admirando as pessoas na rua. Percebia comportamentos e ritmos diferentes conforme dia e horário, ouvia buzinas e músicas ou vozes e motores, percebia relações e associações que se pareciam formigas. Em dias de passeatas, balançara bandeira, gritara ou pensara em jogar ovos. Pensava: quanto tempo eles demorariam para chegar até lá?

A rua foi se esvaziando até o dia em que silenciou. Passou a ouvir pássaros ao longe, o telefone do vizinho do outro lado da rua, a chuva quando vinha da parte de trás do apartamento e antes surpreendia. Lembrou-se do ovo.

Buscou um e jogou no meio da rua. Plaft! Ouviu o barulho, viu a pequena mancha sobre o asfalto. No dia seguinte fez de novo. Plaft! E no outro dia também e também. Plaft! Plaft! Uma dúzia.

Será que a água faria desenhos diferentes no asfalto? Chuá! Um dia e outro e mais outros. Chuá… O barulho mudava também. Coisas se quebrando teriam acústicas diferentes?

Jogou um copo. Crash! Em outro dia mais um e no seguinte em outro horário. Crashs diferentes. E ao maior? Como se comportaria?

Pegou o microondas estragado que usava de estante e arremessou, ouvindo o som inesperado de que a quarentena havia acabado.

Gustavo Burla

Comments are closed.