Quando o telefone toca mais de duas vezes, a amiga desconfia. Do outro lado, vendo a bina, a amiga reluta.
— Oi, amiga, tá tudo bem?
— Tudo certo, eu tava longe do telefone.
— Olha, não deu mesmo, fui trocar a resistência e não consegui encaixar. Me empresta seu marido um pouquinho?
— Olha, amiga…Não posso…
— Ele tá ocupado? Não tem problema, pode ser mais tarde, deixo pra tomar banho na hora de dormir.
— Você não viu a postagem no Instagram, do nosso novo negócio?
— Jura, amiga!? Vi não! Que sucesso, vou olhar agora! Vocês começaram um negócio novo? Que maravilha conseguir uma empreitada assim no meio dessa cris… Ué? Marido de aluguel?
— É. Todo mundo pede ajuda pro Jaime e… Fizemos umas contas e…
— Sério isso? Amiga, cê vai me cobrar pra emprestar o seu marido?
— Nem chama emprestar, né? Foi o jeito de complementar a renda, amiga…
— Mas… De mim…?
Silêncio constrangido dos dois lados da linha. Nenhuma das duas amigas tinha coragem de falar. Nenhuma das duas amigas tinha coragem de desligar. Até que:
— Tudo bem, fala pra ele vir quando puder.
— Ah, que alívio, amiga. Que bom que você entendeu.
— Fala também que vou cobrar o mesmo preço pelo que sempre faço com ele quando vem.
Gustavo Burla
