Toda madrugada

Toda madrugada

Exatamente às 4h20 da madrugada ele acordava, olhava o relógio e levantava para beber água. Da janela da cozinha via as luzes dos vizinhos de perto e de longe, reconhecia as que ficavam sempre acesas, percebia as diferenças nas outras, sabia distinguir entre elas em cada noite da semana. Porque toda madrugada arrastava pontualmente a insônia até a cozinha, enchia e esvaziava o copo d’água, observava a vizinhança, ouvia os sons da noite e voltava a dormir. Toda madrugada isso acontecia. Acordava e olhava o relógio: sempre 4h20. Levantava, bebia, via, ouvia e dormia. Toda, mas toda madrugada, por anos, sem exceção. Até que se perguntou por que isso acontecia? Sem resposta, desligou o despertador.

Gustavo Burla

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