No mesmo dia em que o médico gritou “nasceeeeeu”, outro, lá fora, decretava o lockdown. E nada de visitas com beijinhos na mão, celebrações de batizado e festa de um ano. Vivia realmente isolada. Aos poucos, começou a sentir-se estranha, como se tivesse algo que ninguém mais ali tinha e, por isso, vivia quieta, com a boquinha fechada.
Os pedidos eram muitos: “Sorri pra mamãe…”, “Sorri pra vovó”, mas ela escondia com medo da vergonha de decepcionar pelo que iriam encontrar os mascarados que a observavam.
Sentiu-se feliz quando começou a usar a máscara também, não precisava disfarçar ou tentar esconder. Queria até dormir de máscara. Os pais, ainda que receosos, se tranquilizaram com o zelo que a criança tinha, quando nenhuma outra suportava.
Todo seu incômodo se resolveu somente quando começou na escola. Por um descuido, a coleguinha retirou a máscara e, ao sorrir, viu apontar nela um pontinho branco, igual ao que nascia em si.
Ufa!
E foi assim que nunca mais parou de sorrir.
Mariana Virgílio
