Ovo sem Páscoa

Ovo sem Páscoa

Não era chocolate. O marrom na casca era terra, uma lama espessa que tentara fazer as vezes de confiserie, sem o ser. Estava mais para uma confissão. Alguém roubara o ovo. Ou tentara. O único ovo que ainda havia. E, então, desajeitado alguém, deixara-o se espatifar na poça de barro bem na portinhola do galinheiro. Sobrara a casca ferida. Branquinha e fina e coberta por uma camada castanha e viscosa, como, no verão, ficam fácil essas réplicas vendidas no supermercado envoltas em papel laminado fosco branco e vermelho, guardando o segredo de uma surpresa.

Aquele ex-ovo fora do mesmo tamanho da cópia, mas não guardava mais surpresa. Ou a surpresa, então, era precisamente passar de ovo a casca sem que ninguém visse a passagem da gema a pinto, ou do pinto a galo, ou do galo a um belo de um molho pardo. Ou a surpresa, então, é justamente o então: a conclusão de que não há passagem alguma. Até a de ônibus para correr dali ao supermercado estava pela hora da morte, assim como qualquer ovo, de confiseur ou de galinha granjeira mesmo, que se pudesse buscar lá. 

Páscoa para quem mesmo? 

Táscia Souza

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