Meia roda

Meia roda

Na porta da oficina, o dono do carro mal havia descido quando o mecânico afirmou:

— Carro tá meia-boca, né, chefe?

— Foi herança.

Explicou que precisava de uma revisão, geral mesmo, a começar pelos pneus, que estavam estranhos. O mecânico viu que estavam baixos, quase quadrados, tirou um e levou pro teste.

— Cara, tá sem câmara de ar.

— Sim, eu sei. Ficou com meu irmão. Carro era do meu pai, única herança, nós dividimos.

— Por que não venderam e dividiram o dinheiro?

— A gente cresceu indo pra escola nesse possante, moço, não dava pra vender.

— Mas dividir podia?

— Era o jeito, não converso com meu irmão faz tempo. Dividimos o carro todo. Fiquei com os pneus e ele com as câmaras de ar.

— Vai precisar comprar novas, tem um borracheiro ali virando à esquerda.

— Não posso virar à esquerda, essa parte ficou com ele.

— Pela direita o caminho é mais difícil… Vou com você até lá, a gente compra e volta aqui.

— Vai ter que ir agachado, não tem banco do carona.

Gustavo Burla

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