Dese(sc)r(i)tora

Dese(sc)r(i)tora

Desaprendi a escrever. Continuo sabendo juntar as letras tal qual ensinado na infância, tendo ciência de que bê mais a é igual a bá, de que “o rato roeu a roupa do rei de roma” não dá conta de todos os sons que o erre pode ter e de que meu nome tem um dígrafo consonantal com o qual a maioria das pessoas não sabe lidar mesmo quando soletro. Também ainda sei pontuar, ou ao menos acho que sei, e quase nunca cometo o deslize de separar o sujeito do predicado, ou de deixar os apostos mais comuns desprovidos da guarda costumeira das vírgulas, a não ser por pura desatenção. Mas escrever, escrever mesmo — aquilo que se faz não com o deslizar do lápis sobre o papel, ou com o pousar dos dedos sobre as teclas, mas com ser tempo mais do que tê-lo —, isso já não sei mais.

Táscia Souza

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