O médico era clínico geral, mas tinha pavor de tocar pessoas. Então, nas consultas, orientava que o próprio paciente se examinasse.
Aqui, pegue o esteto, coloque no ouvido, agora encoste no coração. O que está ouvindo?
A maioria respondia: está batendo. E empavaca por aí.
Mas parece haver alguma anormalidade?
Anormal era a situação, mas o paciente, ainda mais se fosse pobre, calava. E obedecia. Analisava a própria garganta no espelho, pedia para o acompanhante olhar os ouvidos pelo otoscópio e, se não houvesse acompanhante, não auscultava os pulmões.
Por via das dúvidas, para combater pneumonias não diagnosticadas, mesmo que inexistentes, o médico empurrava pelo tampo da mesa, para nem correr o risco de esbarrar nos dedos do paciente, a receita para uma dose de antibiótico de 8 em 8 horas.
Táscia Souza
