Polinização

Polinização

 

Jonathan Ive é designer da Apple, aquela empresa que revoluciona o mundo toda vez que lança um produto novo. Ele parece não se gabar disso, se diverte com isso. Não com o fato de criar os produtos que revolucionam, mas com o fato de criar. E quem disser que ele cria, ele nega. Nós criamos, afirma.

Nós não são os designers, mas a equipe integrada por eles e por engenheiros, programadores e até pelo pessoal de marketing da empresa. Ninguém faz a sua parte e passa adiante com a consciência limpa: são reuniões e discussões infindáveis, críticas e apontamentos bem recebidos, porque se há um defeito quer dizer que algo novo pode ser feito. Polinização cruzada.

Cada parte sabe o que tem que fazer, mas só chega a esse conhecimento quando busca o que pode fazer no processo colaborativo. Desse modo, quando o produto está pronto… ele nunca está pronto. Arlindo Daibert dizia que a insatisfação do artista com um trabalho o leva a fazer outro. É algo como alcançar a perfeição, nem que por um instante, e começar de novo depois.

Se cada um fizer a sua parte serão várias partes prontas. Se depois de todo esse esforço persistir a insatisfação, a revolução começa a ganhar forma.

 

Gustavo Burla

3 Responses

  1. É… acho que a ação colaborativa anda escassa no mercado… Diante dos defeitos (e são tantos) que temos apresentado, nos resta a esperança de que algo novo esteja por aflorar. Mas, de qualquer forma, é tudo bastante doloroso. É preciso reencontrar a diversão e o prazer de criar, e de forma colaborativa como é a essência do teatro. Isso é o mais difícil na Babel em que nos encontramos. Parece que a carta do ano foi mesmo a Torre. Mas ela prevê uma reconstrução. Bj

  2. Essa relação cíclica do novo e perfeito se torna aterrorizante para quem vive sob efeito de ansiolíticos. O inesperado futuro nos guia para uma visão ‘levyniana’ de virtualização, onde o calvário em busca da inovação perfeita nos deixa em um presente onde o avançado é passado.
    (um pouco complexo, estou viajando um pouco)

  3. Lembrei de um episódio contado não me lembro onde… talvez em alguma dinâmica de grupo… que coicidência será se a minha mente não está me traindo! Falava de todos que se envolveram num projeto audacioso da Nasa. Perguntada sobre a sua função, sobre o que fazia ali, uma faxineira simplesmente respondeu: Eu estou ajudando o homem a chegar à lua.
    Mentira ou não, lição organizacional ou realidade,a verdade é que a filosofia do “cada um no seu quadrado” não combina com a lua, que até então tem se mostrado redonda… não combina com o palco, mesmo que seja italiano.