O menino que não sabia sorrir

O menino que não sabia sorrir

Um dia ela lhe disse que queria escrever uma peça. Ele arregalou os olhos: fazer teatro era uma coisa, isso ele fazia desde que se entendia por gente, na frente do espelho. Daí a se aventurar pela dramaturgia era coisa bem mais complexa. Mas ela era complexa mesmo, não era?

Inspirada num livro que eu li, ela explicou. Qual livro, criatura, se o que mais ela fazia da vida era ler? Ah, é um livrinho de criança, que conta a história de um menininho que um dia perde seu sorriso. Um menininho assim, feito você.

Na mesma hora ele parou de sorrir. Como assim, feito eu? Não passa um só minuto sem que eu dê uma gargalhada! Estou sempre com os dentes à mostra! Ela piscou os olhos, complacentemente. Dentes à mostra também pode ser ameaça de morte.

Ele bufou. Ô sujeitinha para inventar moda! Primeiro uma peça e agora aquela história de que ele não sabia sorrir. Mas iria mostrar para ela! Tomou fôlego para soltar aquela risada de deboche, mas tudo o que saiu foi uma tossida.

Quem sorria agora era ela, os dentes à mostra como uma ameaça. Ele se sentiu encurralado. Seus dentes pareciam fugir garganta abaixo só para não serem obrigados a se exibir por entre a cortina de lábios. Tentou pelo menos repuxar os cantos da boca para cima e esboçar um sorrisinho amarelo, mas só conseguiu uma careta. Um menininho assim, feito eu.

Foi a primeira vez que chorou no palco.

Táscia Souza

4 Responses

  1. Podendo, por “concessão divina”, dar às pessoas mais importantes da minha vida um presente de valor inestimável, lhes daria “Táscias”. Não qualquer “Tasciazinha”, mas você. Assim, minhas pessoas amadas e prediletas, receberiam uma de você, para que suas vidas pudessem ser ainda mais deliciosas. Daria, então, a você também uma legítima “Táscia”, e saberias então como é se sentir assim. Amo-te!

    Com um sorriso de encantamento.