Ultimato

Ultimato

 

para C.S.B.

Abriu o e-mail, como fazia todas as manhãs, e lá estava, em letras garrafais e um sublinhadinho: ULTIMATO. O mouse tremeu um pouco, o indicador ameaçou não ser capaz de dar o duplo clique. Respirando fundo para espantar o receio, tomou coragem de abrir a mensagem virtual. VOCÊ TEM 15 DIAS PARA INVENTAR UMA HISTÓRIA!!!!!!!!, bradavam as palavras. Aliás, não sabia quem gritava mais, se as letras ou as incontáveis exclamações. Sentiu-se surda só de olhar e fechou rapidamente o e-mail, para abafar o som.

Na manhã seguinte, temerosa, relutou um pouco em entrar na conta do endereço eletrônico. No cômodo onde ficava o computador, caminhou de um lado ao outro pensando se deveria ou não sacrificar o ritual diário de se inteirar do mundo em função da ameaça. Por fim, como havia muitos e-mails para ler e nenhum metro a mais de quarto para andar, decidiu aboletar-se na cadeira em frente ao micro e seja o que Deus quiser. A pretensa valentia, contudo, não impediu o braço inteiro de chacoalhar-se de pavor enquanto tentava acertar o mouse no link “entrar”, ao passo que uma gota de suor frio escorria assustada por sua têmpora direita. A mensagem estava lá, arreganhando os dentes: “14 DIAS!!!!! MUÁÁÁÁ… “. Ao lado das reticências, entre parênteses, vinha a legenda – “risada macabra” – caso ela não compreendesse o significado da onomatopeia. Nem precisava. Mesmo que não entendesse – o que realmente demorou um pouco – o próprio fato de as letras estarem ali, com todos aqueles capesloques, já era macabro o suficiente.

A quinzena seguiu nessa tortura chinesa. A cada dia em que abria o correio eletrônico, deparava-se com uma mensagem. Nenhuma tão autoritária como a primeira nem tão ameaçadora como a segunda, mas todas aterrorizantes em seu laconismo. 13… 12… 11… E ela contando junto com o carrasco, como quem contabiliza gotas caindo na testa.

Quando a última mensagem pingou em seu e-mail, os dedos desesperados martelaram furiosamente o teclado em busca de uma história. Nem conseguia pensar direito (como se esperasse mesmo pensar em alguma coisa depois de 15 dias sem inventar porcaria nenhuma). Mas as letras, a princípio digitadas sem sentido, aos poucos foram formando palavras (todas em Caps Lock, claro): QUALQUER HISTÓRIA, MEU DEUS!!!!!! QUALQUER HISTÓRIA!!!!!! Saiu esta.

Táscia Souza

4 Responses

  1. hahahaha…
    Amei!!!!!!!!!!!!!!
    Vou aceitar essa história por enquanto…
    E qualquer dia desses, recomeço a contagem!
    BJO
    Te amo, amiga!!!

  2. Como essa história me parece tão próxima… a contagem por aqui tb me deixa tão temerosa!!! Rsrsrs…

  3. Acho um barato esse tipo de texto-surpresinha: o texto é esse. Dá um ar de culta modernidade.