Dia de compras

Dia de compras

Vou ao supermercado e já volto. E lá ia ele, sorridente, marido ideal. Ela ficava em casa vendo filme, jogava paciência no computador, tomava banho e quando acabava lá estava ele, arrumando tudo na cozinha, uma enormidade de coisas que ela jamais se lembraria de comprar. Foi assim no começo.

Vou ao supermercado e já volto. E ele ia muito. Sempre fora, mas depois de um tempo passou a incomodá-la. Via filme sem prestar atenção, perdia na paciência e deixava para tomar banho quando ele fazia barulho na porta, para não ver aquela enormidade de coisas que ele trazia. Saía do banho já estava tudo arrumado e não havia briga, só o sorriso dele ao mostrar uma novidade que encontrara.

Vou ao supermercado e já volto. Ela foi atrás. Ele tinha um caso e, como sempre voltava com compras, tinha que ser com a caixa do supermercado. Ia em dias e horas diferentes e ela imaginou que os turnos da vaca eram alternados, rotativos ou fossem lá como fossem. De longe ela o seguiu, observou a simpatia dele com todos, inclusive o moço do caixa, e voltou tão suada pra casa que não havia outra alternativa que não tomar um banho.

Vou ao supermercado e já volto. Ela perdeu a paciência: por que não vai comprar cigarros? Ele a olhou contemplativo, mensagem entendida, lágrima segura nos olhos. Ela o abraçou, arrependida, e ele não foi mais ao supermercado. Ela passou a fazer as compras, como sempre quis.

Gustavo Burla

One Response

  1. Seu talento parece não ter limites. Sou seu fã (e não estou simplesmente puxando o saco!) incondicional. Seja como professor, ator, ou só como um adorável presunçoso mesmo. Espero ter a opurtunidade de ter aulas com você de novo. E quanto ao texto, quem queria fazer as compras?