Desafio de escritores

Desafio de escritores

“Os concorrentes têm sobre a carteira uma caneta e uma folha de papel almaço. Podem rasurar à vontade, desde que o texto esteja legível ao final. E devem respeitar as três regras.” Nem em final do time da casa vira aquele ginásio tão cheio. Na plateia, uma enormidade de curiosos, na quadra, fileiras intermináveis de carteiras de colégio com concorrentes do Desafio de Escritores daquele ano. A voz do mestre de cerimônias ecoava pelos autofalantes e a plateia delirava, enquanto os concorrentes respiravam, alongavam ou estalavam os dedos, enxugavam as mãos.

“Regra número um: têm que escrever um texto de ficção com conteúdo decente, uma história boa, e quem julga isso são nossos jurados”. O rapaz de azul sentado na marca do pênalti tinha o sonho de ser escritor desde a infância. No ano anterior fora assistir o desafio e vislumbrou ali sua chance de ser publicado. Exatamente naquele dia teve a ideia da história que escreveria no concurso seguinte e durante o ano todo lapidou-a, aprimorou-a, tornou-a perfeita.

“Regra número dois: a história tem que ter início, meio e fim, não pode ficar pela metade.” A história do rapaz era um drama existencial com elementos familiares, políticos, morte e suspense, capaz de deixar o leitor com dúvida em alguns momentos a respeito da presença de algo sobrenatural na história. Perfeito. E treinou a escrever rápido durante todo o ano, assim como sintetizou a narrativa aos pontos essenciais.

“Regra número três: a história deve ser contada no tempo da música que vai tocar no ginásio e deve seguir o ritmo da música.” Treinou seu drama existencial com diversas músicas clássicas, pois ouvira no ano anterior a Nona de Beethoven. Escreveu ouvindo a Marcha Fúnebre, a Cavalgada das Valquírias e mesmo a Primavera, de Vivaldi, um clichê que ele jurava que não tocariam ali, mas treinou assim mesmo.

“O escritor vencedor do Desafio ganhará o contrato para publicar um livro, que deve ser escrito até o final do ano. Mas vamos parar de conversa e partir para a ação. Todos a postos: música!” Elvis Presley estragou todos os planos perfeitos do rapaz.

Gustavo Burla

9 Responses

  1. Consigo imaginar esse tipo de coisa acontecendo comigo. Tenho mania de planejar tudo, sempre praticar como agir antes de alguma coisa importante, enfim… Nada é melhor que o improviso.

  2. Eu fui mais ou menos assim quando prestei vestibular. Fiquei o ano todo pensado em possíveis assuntos, temas para a redação… Mas infelizmente nada que eu imaginei caiu. hehehe… Acredito que tudo que é “improvisado” de uma forma sensata, claro, é mais produtivo.

  3. Como assim esse pessoal dizendo que não existem planos perfeitos? Precisam assistir às aulas dos planos perfeitos. Quanto ao rapaz, tsc, tsc… 😉