A dor vai e volta. O esquecimento descansa e renasce. A realidade desanda. Mas fica, não muda.
O telefone a retirou das suas reminiscências. Maquinalmente, com um rouco ‘alô’, abriu conexão com algum vivente indiferente.
Quem. Mulher. Outra. Ela. Amante. A outra.
Colocava-se no direito de pleitear uma pensão, alegava ter um filho dele, queria usufruir do bem-estar gerado com o falecido.
Mais uma. Mais um filho de moita. Outra vergonha. Aguentar era seu modo de amar.
Não ousou desligar. Escutou as demandas, a suposta história de amor e as necessidades. O sangue fugiu das pernas, no entanto, não foi para o coração, área extremamente afetada, massacrada, apunhalada, amada.
Torceu que explodisse em ódio, amor, tristeza, fé, dor, carinho. Não da forma como quis, como sempre sucedeu durante a vida, não foi atendida. O nariz vazou, a veia estourou, vermelho manchou gola, camisa, sutiã, pele, poros, alma.
Se o amor é vermelho, banhada estava com o amor próprio que nunca fora canalizado para si.
José Eduardo Brum
Alguém já lhe despertou o poeta adormecido? Ou escondido, reatraído, quase tímido? Alguém já lhe disse que quando você expõe é muito mais bonito do que quando você guarda?
Não guarde mais pra você. Quero mais doses desse seu lirismo ácido e até sarcástico.
Amo!