Era cinéfilo, como tantos diretores de cinema frustrados, daqueles que sequer sabem segurar uma câmera por falta de oportunidade na vida. Fato é que jamais deixava passar um filme pelas salas escuras sem que o visse.
Aquele espaço era seu templo, lugar sagrado onde conversava com a tela em meio ao silêncio que um dia houve. Nada poderia romper com sua meditação e fazia até escolhas estratégicas quanto ao horário de frequentação das salas: durante a semana, de tarde, tinha menos gente e tudo ficava mais íntimo.
Ainda assim, tornava-se cada vez mais comum o inconveniente da pipoca, da conversa ou do especialista que conhece e canta as músicas ou que antecipa certas cenas. Eram pessoas que não mereciam viver e como bom devoto encontrou sua forma de contribuir para a arte.
Batizou o revólver de Oscar e carregava sua estatueta para as sessões. A cada vencedor escolhido era como se soasse um psiu capaz de calar as vozes irrelevantes ou fechar as bocas mastigadoras. Chegou mesmo a trocar de lugar para conseguir seu objetivo sem ser visto pelas câmeras da sala.
E tão bom quanto terminar de ver o filme na quietude era encontrar nos dias seguintes constantes matérias sobre o serial killer do cinema, as quais lia contemplando o objeto metálico sobre a escrivaninha. Desde pequeno soube que o cinema lhe daria espaço na mídia.
Gustavo Burla
eeeh!
é realmente mto bom ser reconhecido pelo trabalho feito. vejo a hora em que nosso amigo expanda seus horizontes e silencie alguns diretores e produtores de certos filmes tão merecedores desse “Óscar” quanto os expectadores.
Fantástico!!!
Burla, isso só poderia ter saído de sua cabecinha mesmo… rsrsrs Texto ótimo, cômico, trágico, cítrico, excêntrico, pândego e você!
Fascinante!!