Escorrega natural

Escorrega natural

A previsão era catastrófica, muito frio e perigo. Fique em casa, berravam os canais de notícias. Já que não era como a maioria, saiu. Precisava se sentir invencível, traçar destinos. Quando decidiu voltar, a neve já estava no meio das canelas. Ventava e o caminho era longo. Podia se odiar pela iniciativa. Contudo, sentiu-se uma criança. Fez o trajeto se achando com dez anos de idade. Chutava a neve, jogava-a para o alto e ela se esfarinhava. Brincou de futebol e arremesso de cubos de gelo. Dançava e cantava na neve. Fez torta na cara, até que escorregou, tendo o primeiro tombo de neve. Realmente a previsão se cumpriu catastroficamente, deveria ter ficado em casa, são e salvo. Só chegou na manhã seguinte depois de uma passagem no hospital. O frio foi embora rápido, porém o gesso na perna lembrava-o por meses da neve, aquela ingrata.

José Eduardo Brum

One Response

  1. Esse caboclo é meu herói…
    Pensa bem: o trágico nós trazemos de nascença…a existência é trágica, a condição humana, miserável. No filme da minha vida, já sei, o herói morre no final. Então que venha o frio e a neve, a aventura irresponsável!
    Uma perna quebrada cura logo. E o gesso é legal, os amiguinhos pintam recordações…
    Abraços…