Nunca me esqueci daquela noite. Como esquecê-la? Estava frio, uma névoa baixa, o ar pesado como meus joelhos, com um cheiro agridoce. Aparentava tranqüilidade.
Três batidas na entrada. Susto ao mesmo tempo em que o vento gélido do movimento da porta golpeava minha face. Não. Foi o coração que recebeu o choque de vê-la diante de mim. Ele batera incontrolavelmente como na noite do primeiro beijo, há um ano, nove meses e um dia.
Ela estava diferente, talvez tenha ganhado alguns quilos. O cabelo crescera, as roupas estavam mais estilosas. O olhar era duro. Pediu para entrar e se sentou no sofá. Permaneci em pé, braços cruzados, corpo tenso, desacreditando que aquilo fosse real:
– Soube que estava doente? Tudo bem? – ela soltou.
Eu podia ter dito: “Acho que melhorei agora, por você estar aqui”.
– Você veio até aqui para ver se estou bem depois de minha pior crise?
-Não. Na verdade, vim te dizer uma coisa.
Podia ter dito: “Preciso falar antes tudo o que tenho sentido por você, como sua falta me machucou”.
– O quê? O que é tão importante assim?
– Eu te amo.
Poderia ter dito: “Eu também”. Mas as palavras não tinham mais valor. Perderam-se na encenação diária da minha mente. Simplesmente caminhei até a porta e a abri:
– Tchau – falei com toda a convicção possível.
Ela foi até mim, ficando cara a cara, e perguntou:
-Por quê?
– Eu poderia ter te amado para sempre. Agora… acabou.
Enquanto deixava minha casa, o seu perfume entrou rapidamente em meu ser e esta foi a prova definitiva de que eu não sentia mais nada. Bati a porta calmamente, com a certeza de que não havia mais sentimento. Eu estava livre. Havia sido curado.
José Eduardo Brum
Adoro pensamentos inclusos em momentos de tensão. Transparece a verdade que esta em conflito com as decisões a serem tomadas. (além de me deixar mais curiosa ainda!)
E me lembrou o final de Closer… Beijos
Mas que achado esse blog, heim Sr Zédu! Acho que li quase todos… Parabéns, um primor! Vou colocar um lik no meu blog, ok? Um beijo!