Acidente inconveniente

Acidente inconveniente

Como em todos os verões, a turma estava reunida de novo na praia. Férias, curtição, sol, descanso, compras, assuntos fúteis e intensos, discussão de problemas, apertos numa casa apertada. Voltavam mais cansados do que antes.

Kátia, bem no fundo, não fazia questão de estar com eles, mas honrava a tradição. Detestava as confusões e as brigas pela manhã e odiava a rotina de praia-almoço-praia-baralho-dormir do meio da semana. Somente apreciava os fins de semana, regados a barzinho, bebidas, flertes, boate e distância da areia.

Felizmente desconheciam a razão pela qual ela detestava qualquer praia do mundo. Kátia só ficava debaixo da barraca, sentada numa cadeira. Não entrava na água em hipótese alguma, esfregava os pés constantemente para se ver livre da areia. Esquivava-se de contatos corporais quando os amigos estavam molhados.

O motivo era simples. Tinha medo da água, receio de ser punida por Netuno, Iemanjá, Iara, Mãe d’água ou qualquer outro ser por ter sido obrigada a evacuar na água salgada. Quando criança, teve diarréia e, obrigada pela mãe, fez suas necessidades na água. Desde então, não entra no mar com medo de ver seus dejetos boiando ou perseguindo-a. Inúmeros pesadelos já a assombraram.

Enquanto relembrava o incidente, os amigos resolveram quebrar o jejum do banho e levá-la a força pra água. Jogaram e riram. Só que ela desapareceu. Parece que havia sido tragada. Os companheiros se desesperaram, chamaram salva-vidas, deram entrevistas para os jornalistas. Passaram a noite procurando.

Somente no dia seguinte Kátia apareceu no carro da polícia. Com um sorriso no rosto confessou:

– Esqueci que gosto tanto de água, que nadei sem parar. Vou ser mergulhadora.

Era mentira. Esse tempo todo estava num hotel de luxo se lavando e se desintoxicando da água maligna.

José Eduardo Brum

2 Responses

  1. kkkkkkkkkkkkkkkk… podem confessar! Essa foi pra mim… e nada de gracinhas em me levarem a força para o mar!!!!