De um dia pro outro resolveu estudar pra concurso. Não era bem o que queria da vida, mas não tinha mais jeito. Até gostava do emprego, só que o salário era pouco e não tinha muita perspectiva de aumento. Tinha o projeto de uma revista cultural que elaborara para a firma como quem gera um filho, mas aquilo já fazia mais de ano e nem sinal de ir pra frente. Do romance que escrevera então, quase nem lembrava mais, tamanho o silêncio das editoras para quem enviara os originais.
Passou meses se dedicando à nova empreitada pra não lamentar as antigas. Vida que segue, dizia ao espelho a cada vez que o rosto abatido o encarava do lado de lá. As apostilas eram chatas, a vaga não era grande coisa, mas qualquer coisa era melhor que sonhar acordado. Pelo menos assim podia dormir de exaustão. O esforço foi tanto que, no dia da prova, tinha certeza de que não havia ninguém mais preparado do que ele.
No mês seguinte, enquanto separava a correspondência que acabara de apanhar na caixa de correio, o chefe ligou: “Cara, saiu tua promoção. O dobro do salário pra tocar aquele teu projeto. A direção adorou! Só não rolou antes porque o orçamento tava meio apertado e tal, mas agora decola! Te prepara que tu vai ter muito trabalho.” Desligou atônito, ainda com as cartas nas mãos. Demorou a se dar conta de que entre elas havia um envelope timbrado da editora mais importante do país com um contrato para a publicação do livro. Do seu livro.
(…)
Também havia outro envelope, pequeno, da instituição pública cuja vaga passara meses almejando sem desejar. Vida que segue. Passou no concurso.
Táscia Souza
Eita dilema!
Como um milagre! A única coisa que precisa fazer para chegar em algum lugar… é ir em direção a ele! O melhor caminho vem depois dos primeiros passos.