Troca-troca no elevador

Troca-troca no elevador

Morava no décimo segundo andar de um prédio com vinte e três, trabalhava no décimo sétimo de outro com trinta e três, e além de concreto, tinta e vizinhos ambos tinham em comum o elevador. Esperar um pouco não era problema, mas ver o caixote passar direto tornara-se rotina, isso quando ele não abria e estava lotado, repleto de olhares críticos por ter interrompido a jornada, enquanto olhava de volta como se diante de uma vitrine com artigos inacessíveis.

Vez por outra subia ou descia de escada, o que geralmente ocorria quando ia para casa ou outro lugar onde um pouco de suor não fosse incômodo ou pudesse ser remediado. O pior de tudo era a porta abrir e não ter ninguém, o que levava a longas reflexões sobre o paradeiro do não-passageiro enquanto a porta não fechava.

Um dia cansou e mudou tudo. Ficou estabelecido que sempre que o elevador parasse e tivesse alguém no andar deveria haver uma troca: entra quem espera, não importa quantos sejam, e sai igual número de ocupantes. Assim resolvia-se o problema do elevador não parar, já que era lei, e as pessoas não mais apertavam o botão e iam embora, pois tinham a certeza da viagem.

Hoje, quando chega para trabalhar, demora o dobro de tempo até o décimo sétimo, pois entra e sai umas três vezes antes do ponto final. E fica com remorso de ir de escada quando desce dois andares abaixo. Prefere acordar mais cedo e evitar a hora do rush.

Gustavo Burla

One Response

  1. Aaah, legal… Esse foi um dos que mais gostei. No primeiro parágrafo deu até pra sentir as duas sensações: a de quem está dentro do elevador cheio querendo bater no infeliz que interrompeu a viagem e a de quem está fora e fica até um pouco sem graça por ter feito isso… haha.