O paraíso do cinema

O paraíso do cinema

A galera saiu do cinema naquele silêncio intelectual, mais temerosa de falar besteira do que sentindo o filme. Só um sujeito não demorou segundos para arrotar que o filme era chato, que nunca vira coisa pior e que faltou final. O amigo mais próximo concordava, irônico incomodado; o resto calava.

Aos poucos a turma foi ganhando a rua e a lanchonete, onde sentava para discutir o filme, e no caminho um ou outro citou uma cena, uma música, um gesto do ator, um movimento da câmera, um risco da luz. O filme ganhava verbo. E o outro arrotava.

A conversa crescia em direção aos filmes sem final. Aquele é um clássico. Nossa, esse é eterno! Aquele final é do caramba. E seguiram para os filmes sem meio, em que falta alguma coisa que não faz falta. Por isso são bons. E até filmes sem começo vieram e foram na noite sem hora para acabar e na qual o primeiro a falar acabou sem lugar. Foi embora mais cedo, achou a conversa chata.

Gustavo Burla

2 Responses

  1. Impetuoso, o arrotudo. Pode significar espontaneidade, não é de todo ruim. O porém é que o sujeito poderia, com o tempo e argumentos, ir sentindo também o filme e mudando de opinião, por que não? Por coerência burra?
    Mas vai ver que o filme era chato mesmo. Essa turminha intelectual costuma venerar tanto determinados autores e filmes que acabam encontrando alguma coisa pra gostar, ainda que na marra.
    Abraços…