Antes de se sentar diante do computador, abriu o armário de segredos e pegou o pote em que, desde menina, costumava guardar ideias. Fazia meses que não remexia nos velhos guardados, anos talvez, impedida pelo mesmo tempo (ou falta dele) que agora enferrujava o pequeno potinho de metal.
Destampou-o com cuidado, com medo de que o conteúdo fugisse como vinha fugindo de sua cabeça. Ali dentro havia depositado alguns planos, uma dúzia de sonhos, várias dezenas de esperanças, por toda uma vida. No entanto, o que encontrava era uma grossa camada de bolor.
Assustada, pegou um pano úmido e tentou se livrar daquele mofo, sem sucesso. Depois, uma escova de cerdas duras com um pouco de vinagre e nada ainda. Apelou para um tanto de cloro, mas, na medida em que o limo se dissolvia, as ideias também se esbranquiçavam e clareavam mais e mais, até sumir.
Quando o pote ficou completamente vazio, sem fungos nem desejos, colocou a tampa de volta e prendeu o ar.
Táscia Souza
MUITO BOM !!! O artigo de vocês, estão de parabens, vou passar a seguir vocês, muito Obrigada !!!
Nós que agradecemos, Leticia! Seja bem-vinda!