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Liberdade de ser.

Começar de novo

Começar de novo

Todo dia era um novo começo! Era disso que ela gostava! De começar! Mas não gostava da sensação de terminar algo. Tinha um quê de despedida e ela não gostava de despedidas. Por isso começou a evitar terminar qualquer coisa que começava.

Primeiro decidiu que não queria se despedir das personagens das histórias que lia, então não terminava os livros. Se despedir de um filme, ou novela então, impensável!! Ficavam pela metade e ela seguia criando infinidades de novas situações para jamais deixar terminar a trama em sua mente.

Depois começou a ficar com indigestão de terminar o prato do almoço, a caixa de bombons, o sorvete da tarde de domingo. Como acostumar com o último gostinho de algo que foi tão bom?!

Aí percebeu que não conseguia terminar uma conversa, um telefonema. Passou a levantar e ir embora quando sentia que o papo estava acabando. No telefone, simplesmente desligava. Os amigos começaram a achar que ela estava estranha, ou que a ligação havia caído.

Começou a ficar obsessiva com começos. Começar era muito bom, parar antes do fim era o êxtase. E sua vida começou a acumular coisas inacabadas. Balas pela metade, contas meio pagas, palavras meio ditas, sonos interrompidos.

Até que um dia se pegou não querendo terminar um suspiro com medo de perder a poesia daquele começo de fim de tarde.

Prendeu o ar.

Parou o tempo.

Elena Duarte

Para viver

Para viver

Oi, tudo bom?!

Tudo joia! E você?

Bem também! O que você faz?

Eu?! Hum… muitas coisas!

Não… o que você FAZ? O que você é!?

Eu… bom… eu posso te dizer que sou feliz!

Aff.. que difícil conversar contigo! Quero saber o que você faz para viver!

Ahhhh… isso?!

É!

Muito simples! O mesmo que tu!

O mesmo que eu!? Como você sabe!?

Uai… Porque é o que todo mundo faz!

Não! Claro que não! Impossível isso!

Impossível é ser diferente!

Não é não!

Então me fala o que você faz para viver!

Eu trabalho num cargo do governo!

— [silêncio]

Por que essa cara de espanto?!

Porque para viver eu respiro, como, durmo e faço as minhas necessidades… Não sabia que se trabalhasse para o governo poderia pular essa parte.

Elena Duarte