Category Archives: Segunda opinião

A Locadora Vermelha

A Locadora Vermelha

Era aniversário de um grande amigo. Fizemos faculdade juntos. A festa começava às 19h30. Ainda era cedo. Entrei na Locadora Vermelha e resolvi assistir a alguns episódios daquela série sobre baralhos e política que tanto falam.

Olhei no relógio. 19h25. Era hora de sair.

Sair para buscar os meus netos no cursinho de inglês.

Já estávamos em 2062, e me atrasei para as últimas 45 festas de aniversário.

Thiago Luz

Aterrissagem 

Aterrissagem 

Da janela ela acompanhava o entardecer pintando cores e luzes no horizonte.

Viu um lindo colchão de nuvens gorduchas se formando logo abaixo do avião. Se elevando junto ao horizonte, outras nuvens, essas mais pontudas, formavam um relevo semelhante a uma cordilheira de altas montanhas. Entre a cordilheira e o colchão de nuvens ela viu surgir um lindo lago suspenso que refletia as montanhas e as luzes daquele sol que corria para se esconder depois de um longo dia de trabalho. O avião faz uma leve curva, inclinando sua janela sobre a imensidão azulada de nuvens. O lago então virou mar, as nuvens se fizeram grandes ondas e ela ficou ali, navegando ao balanço daquelas vagas aéreas, tentando imaginar como seriam as pessoas que moravam nos altos castelos que apontavam sobre aquelas montanhas no horizonte depois do vasto oceano. O avião faz mais uma curva e mergulha oceano adentro. Ela prende a respiração para não se afogar nas águas profundas, fecha os olhos e se deixa submergir ao encontro de grandes baleias, lindas arraias e muitos peixes coloridos.

Segundos depois o avião pousa na pista, o piloto repete a mensagem de sempre — dando boas-vindas à terra firme. Ela abre lentamente os olhos, solta o ar que havia prendido, toma novo fôlego… e dá boas-vindas à realidade.

Elena Duarte

Coleção

Coleção

A educação quase canina dos pais ensinou Ester a, desde pequena, guardar estrelas de papel. Eram sua recompensa.

Comeu tudo: estrela. Escovou os dentes: estrela. Com licença, por favor, obrigada: estrela.

Ester cresceu com uma coleção grande, vistosa e organizada de estrelas de papel, mas cresceu incapaz de uma aventura. Aventuras não geravam estrelas.

Aos 16 anos ela conheceu Ana. Sua primeira aventura. Um beijo gerou um punhado de estrelas brilhantes, de mil cores e tamanhos — todas dentro dela.

Os amigos viram a garota sonhando acordada e diagnosticaram: você tá apaixonada, Ester. Ela não gostou de nomear assim. Paixão tinha muita contaminação do mundo, o termo não cabia na pureza e na simplicidade do que ela sentia.

Cinco dias depois, Ester e Ana trocaram mais um beijo. Ela sorriu consigo quando solucionou o mistério, e contou aos amigos: Podem chamar de apaixonada, se assim quiserem. Mas sou colecionadora de estrelas.

Louise Nascimento