Category Archives: W. Del Guiducci

(argumento para um filme que não será)

(argumento para um filme que não será)

Num futuro distópico, relacionamentos são autorizados pelo Estado por no máximo três anos, tempo médio em que o amor se desfaz, segundo pesquisas científicas. Os que descumprem a lei são enviados a colônias penais na Antártida. Pedro e Lúcia, rebeldes e indomáveis, lutarão para permanecer juntos até a morte: pela infidelidade, preservarão a mútua lealdade.

W. Del Guiducci

 

Manicure

Manicure

No footing de domingo em torno da praça da igreja matriz, Marlene mantém sempre as mãos entrelaçadas às costas. Cabeça baixa, tem vergonha dos dedos permanentemente pretos da nódoa das folhas de fumo que estala a tarde toda na lavoura do pai. Boa moça, guarda dois pequenos pecados: um é a inveja das unhas tão bem feitas das moças da cidade. Às vezes, caminhando entre elas, divaga sobre como seria bom enfiar espetos de bambu por baixo daquelas garras acetinadas, descolando-as das carnes, e depois mergulhar as mãos ensanguentadas das jovens madames em uma solução de limão e pimenta malagueta por quatro ou cinco minutos.

E esse é o segundo pecado de Marlene, pelo qual pede perdão toda missa de domingo, liberando-se assim para odiar outra vez.

W. Del Guiducci

Dona Mara

Dona Mara

Dona Mara, gatérrima, é a sensação da academia.

Aos 55, deliciosamente atlética, malha três horas por dia, seis dias por semana, variando entre musculação, step, cross fit e pilates, ioga, boxe e natação, spinning e funcional, shake sempre à mão.

As mulheres invejam Dona Mara.

Os homens a desejam.

Todo dia antes de ir embora, ela chora baixinho no chuveiro do vestiário.

Então, refeita, maquiada e perfumada, segue para casa, onde entrega a Etevaldo o produto suado de seu labor.

W. Del Guiducci