Author Archives: hupokhondria

Farmacinha

Farmacinha

No armarinho de medicamentos, organizados por ordem de uso, havia: o antialérgico para combater a rinite; a cápsula de cafeína para diminuir a sonolência excessiva provocada pelo antialérgico; o beta-bloqueador em caso de arritmia causada pela cafeína; o broncodilatador na hipótese de o remédio de coração agravar a asma (e o beta-bloqueador de novo se broncodilatador levar a uma taquicardia); e o analgésico para aliviar a dor de cabeça motivada pela leitura minuciosa de todas as bulas.

Táscia Souza

Loja infantil

Loja infantil

Gostaria de uma roupinha amarela, você tem?

Eu têênhôô! Você não teêm!

Exatamente por isso vim comprar uma aqui.

Aqui não tem, boba.

Você disse que tem.

Êêu tenho! Você não teêm!

Isso aqui não é uma loja infantil?

É sim, ainda não entendeu isso, sua chata?

Por isso vim comprar uma roupinha amarela pro meu sobrinho.

Que deve ser feio, bobo e chato, que nem você.

Quer saber, vou embora daqui!

Belém, belém, nunca mais tô de bem…

Gustavo Burla

Cesta básica de afetos

Cesta básica de afetos

Como os afetos andavam caros, era preciso três coisas:

abrir mão dos supérfluos;

escolher os que rendiam mais;

economizar.

Para isso, montou uma cesta. Respeito era básico, não dava para abrir mão. Amor também não podia faltar, embora fosse preciso selecionar entre os vários tipos (e nesse caso o romântico tendia a ser uma escolha saborosa, mas também bastante perecível: oneroso demais, durável de menos). Já compaixão era uma questão de custo-benefício: ainda que gastasse 50% a mais de letras, sustentava muito mais que paixão.

Táscia Souza