Chuva no ponto de ônibus

Chuva no ponto de ônibus

Às primeiras gotas, duas moças que estavam afastadas vieram para baixo da cobertura. Só um homem ficou lá fora, fingindo que nada caía do céu. “Chuva de moça”, resmungou.

Vieram as segundas gotas e ele entrou. O casal que estava sentado se levantou, a senhora também, mesmo sob protestos. “Assim cabe mais gente aqui embaixo, minha filha.” A mulher amamentando continuou sentada.

O neném dormia quando ela se levantou porque espirrava água que batia no muro ali atrás do ponto. O pessoal da frente chegou para trás, fugindo do meio fio e das duchas que porventura viriam se passasse algum carro. Ou se o ônibus chegasse.

Quem estava do lado chegou para o meio, o lugar mais seco do ponto. Cada um veio se aconchegando, se compactando, se protegendo sem jogar o outro para fora. Chovia bastante. Bastante.

O ônibus chegou devagar, sem levantar onda, parou com a porta na direção do compensado, que não sabia como subir a escada, não passava pela porta e nem conseguia mais se soltar.

Gustavo Burla

Comments are closed.