Category Archives: Gustavo Burla

São.

Amor em teste

Amor em teste

Tinha um amor de infância, que cresceu amizade, mas foi mais, sempre mais, mesmo que não correspondido. E a correspondência veio.

– Cinema?

– Topo.

Era mais que uma sessão, que um filme como outros. O contexto dizia tudo, os olhares trocados, o colorido especial no convite.

Coriza, tosse, garganta… Covid. Testou e desabou em lágrimas. Não!!! Não! Não!

Refletiu: o que vejo naquela linha arroxeada é vírus detectado. Se o vírus está ali, saiu do meu corpo. Quanto mais vírus sair, mais cedo me curo.

Testou indefinidas vezes por horas e horas. A outra opção era perder o grande amor.

Gustavo Burla

Chuva no ponto de ônibus

Chuva no ponto de ônibus

Às primeiras gotas, duas moças que estavam afastadas vieram para baixo da cobertura. Só um homem ficou lá fora, fingindo que nada caía do céu. “Chuva de moça”, resmungou.

Vieram as segundas gotas e ele entrou. O casal que estava sentado se levantou, a senhora também, mesmo sob protestos. “Assim cabe mais gente aqui embaixo, minha filha.” A mulher amamentando continuou sentada.

O neném dormia quando ela se levantou porque espirrava água que batia no muro ali atrás do ponto. O pessoal da frente chegou para trás, fugindo do meio fio e das duchas que porventura viriam se passasse algum carro. Ou se o ônibus chegasse.

Quem estava do lado chegou para o meio, o lugar mais seco do ponto. Cada um veio se aconchegando, se compactando, se protegendo sem jogar o outro para fora. Chovia bastante. Bastante.

O ônibus chegou devagar, sem levantar onda, parou com a porta na direção do compensado, que não sabia como subir a escada, não passava pela porta e nem conseguia mais se soltar.

Gustavo Burla

Loja infantil

Loja infantil

Gostaria de uma roupinha amarela, você tem?

Eu têênhôô! Você não teêm!

Exatamente por isso vim comprar uma aqui.

Aqui não tem, boba.

Você disse que tem.

Êêu tenho! Você não teêm!

Isso aqui não é uma loja infantil?

É sim, ainda não entendeu isso, sua chata?

Por isso vim comprar uma roupinha amarela pro meu sobrinho.

Que deve ser feio, bobo e chato, que nem você.

Quer saber, vou embora daqui!

Belém, belém, nunca mais tô de bem…

Gustavo Burla