Depois de duas breves horas de espera, o médico chamou Martin ao seu consultório. Sim, breves, já que o rapaz aproveitou o tempo ocioso para finalizar a mais recente temporada do seriado que tanto falam nas redes sociais.
— Bom dia — disse o médico.
— Bom dia, doutor.
— Como está se sentindo?
— Nada bem. Acabo de descobrir que o personagem principal morre no final desta temporada.
O médico se manteve em silêncio, apenas encarando o monitor do computador enquanto digitava alguma coisa.
— Além disso – prosseguiu Martin —, fui na pré-estreia do mais novo filme daquela Casa das Ideias e achei terrível. O herói perde os seus poderes e a cena pós-crédito dá indício de que teremos outro personagem vestindo o seu manto.
Com um olhar analítico e óculos sobre a ponta do nariz, o médico preparava algo a dizer, quando Martin o interrompeu:
— Aliás, aqui está o livro que você me emprestou. Achei tão bacana que já li a trilogia completa, no idioma original mesmo. Pena que o desfecho é terrível, com um meteoro destruindo a base inimiga e o antagonista revelando ser pai do protagonista.
— Uhum, entendo — disse o médico. — Já tenho um diagnóstico para o que você vem sentido ultimamente.
— E o que seria?
— Síndrome do Proferimento Obsessivo de Intenção Latente em Expor Roteiros, ou S.P.O.I.L.E.R.
— E o que eu tenho que tomar para melhorar?
— Vergonha na cara. Duas vezes ao dia.
ADVERTÊNCIA: Ao persistirem os sintomas, um médico deverá ser poupado de spoilers.
Thiago Luz