O homem vendia sonhos. Daqueles com pão fofo, recheio amarelo, que deixam a boca melada de açúcar. Pensou no gosto doce, quase enjoativo, e fechou os olhos, antecipando a dormência da língua e a sensação mole de parecer flutuar. Era disso que precisava. Um sonho. Fazia muito tempo que não sonhava.
O homem atrás do balcão apanhou seu sonho com um pegador de metal e o colocou no prato de vidro amarronzado à sua frente. Admirou a pequena colina de massa dourada de forno, salpicada pelo pozinho fino e branco que servia de cobertura. O melhor, o creme amarelo com sabor de infância, estava escondido, bem no ventre do pão.
Quando tentou estender as mãos famintas para devorar o sonho, não conseguiu movê-las. Era como se seu sonho ficasse cada vez mais distante.
– Você pode me trazer um copo de sono, por favor? – pediu, com aflição. O homem que vendia sonhos arregalou os olhos sem entender.
– Como?
– Um copo de sono, não tem? Como pode vender sonhos sem sono? – Sua voz rouca já beirava o desespero. O vendedor de sonhos sentiu pena.
– Não, infelizmente não tenho. Mas você não quer experimentar um golinho de paixão?
Foi assim que começou a sonhar acordada.
Táscia Souza
No velho canteiro sempre há lugar para mais um pé de sonho!
Argumentou o semeador diante do racionalista; embora já não soubesse mais como dosar suas sementes.
(…)
Mas a lua e seus motivos o comoviam, ao cabo de inundar e encorajar-lhe o espírito; … Encantado por ela! “Heis-lhe” toda razão.