Hipocondríaca

Hipocondríaca

Era considerada hipocondríaca pela família, porém não entendia o porquê. Afinal, se algo não vai bem no corpo, o melhor é verificar logo o que acontece e acabar com o sofrimento. Era amiga dos médicos, das secretárias deles. Tinha um laboratório favorito devido ao café da manhã que era servido após a coleta de sangue.

Certo dia, recebeu uma carta do plano de saúde — estava gastando demais e agora a modalidade seria a coparticipação. Mas não se abalou. Trabalhava para isso, para empregar seu dinheiro no que fosse necessário. Só não contava com as críticas familiares agora somadas às dos amigos e do marido. Era necessário parar. A frequência aos médicos envergonhava quem a conhecia.

Constrangida, guardou para si suas dores, seus refluxos e suas enxaquecas. Nem o incompreendido hipotireoidismo ficou livre. Não fez mais exames de sangue. As altas taxas de tireoide deviam ser reflexo de sua imaginação. Tanto desfez de si mesma que morreu.

Chegando ao além, foi inquirida:

— O que a trouxe, minha irmã?

— Hipocondria não tratada.

— Curioso… Nunca vimos alguém chegar até aqui por esse motivo.

— Mas assim foi.

— Perfeito. Temos um trabalho para você. Siga até a próxima sala à direita.

— Ótimo! Trabalharei com comunicação, continuando o que fazia lá embaixo?

— Não… Trabalhará em um hospital.

— Ah sim… E em qual setor?

— Diagnóstico.

Paloma Destro

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