Os frequentadores da biblioteca achavam que ele os ignorava, mas era timidez. Bom dia e obrigado eram sussurrados pra dentro, olhos sempre baixos, corpo escondido pelo balcão e pelos livros.
— Vai ser demitido se não mudar seu comportamento.
Adorava a biblioteca, emprego dos sonhos. Decidiu fazer teatro.
Aprendeu a lidar com o corpo, a projetar a voz, a construir personagens que, nos dizeres do professor, deveriam ter vida em si, o ator deve olhar para além do público.
Na biblioteca, os que antes se sentiam ignorados passaram a se sentir desprezados.
Gustavo Burla