Category Archives: Gustavo Burla

São.

Alfaeto

Alfaeto

Achava um absurdo a matemática, mais exata das ciências, usar letras de um alfabeto, matriz principal da literatura que nem humana era, quiçá ciência. Elaborou um tratado para reorganizar as letras sem a aleatoriedade que via pendurada nas salas da educação infantil.

O critério era simples, como convinha aos grandes ensinamentos: o formato das letras as tornariam próximas. Sem desrespeitar a ordem existente, começou a seleção usando basicamente os critérios ângulos e parábolas.

A seria o começo, mas B tem curvas e ângulos, C somente curva, D tem os dois e o E somente ângulo, por isso segue o A. Letras angulosas se seguiriam, depois começaria a sequência mista liderada pelo B, o C abriria a terceira parte. Serifas não eram critério de análise, coisa de designer, que não entende de matemática nem de literatura.

O J ameaçou uma polêmica, resolvida pela lógica do I, que só tem tracinho em formatos enfeitados. E o G? Tem gente que desenha como um caracol, sem ângulo. Há quem faça um C com um esquadro pendurado. A julgar pela preferência, usaria a segunda versão, mas critérios pessoais não faziam parte do tratado.

Cansado de estudar história das letras, resolveu que se tratava de um caracter neutro, uma exceção à regra, questão de interpretação, fundamento comum nos estudos da língua.

Gustavo Burla

The best beer

The best beer

Estava ali por conta de um concurso literário. Ganhou o prêmio com uma história curta sobre um personagem cervejeiro, cheio de referências que ele havia pesquisado na internet. Antes, só sabia que cerveja era pra ser bebida gelada, muito gelada, e por isso todas pareciam a mesma.

Naquele salão ao som de rock tocado pelo trio acústico, centenas de pessoas desfilavam estilos diferentes dizendo os mesmos dulçor, amargor, malte, resinas, lúpulo, equilíbrio, malte de novo, saber em boca, retrogosto, consistência (não é tudo líquido!?), e até salgado.

Esperava encontrar vikings com seus canecos naquele mais importante encontro de apreciadores de cerveja do mundo, mas recebia doses homeopáticas de bebidas que ele nem imaginava que poderiam ser chamadas de cerveja.

E mais golinhos e gostos e sabores e retrogostos e palavras bonitas de gente perfumada e mais golinhos com rock balada de fundo e perfume de cervejas doces e salgadas e de torneira em torneira os colarinhos se misturaram e ele inadvertidamente deixou escapar um arroto. Com A maiúsculo, grave e contínuo.

Silêncio. Constrangimento. Centenas de olhos sobre ele.

“Aêêêêê!!!” ergueram-se os copos. Os vikings afloravam.

Gustavo Burla

Campeonato no Carnaval

Campeonato no Carnaval

Um irmão coleciona botões, times de futebol de botão.

O outro irmão coleciona Comandos em Ação.

O irmão dos botões espera pelas datas comemorativas para saber como vai renovar os times.

O outro irmão espera pelas datas comemorativas para saber se vai ganhar bonecos ou máquinas de guerra novas dos Comandos em Ação.

O irmão dos botões estuda os times, as escalações, as histórias e os campeonatos, que realiza ao longo do ano concomitantemente a alguns calendários regionais e às competições nacionais. Tudo no mesmo dia, com seus jogadores de futebol de botão.

O outro irmão acompanha o Carnaval, os sambas, as alegorias, as alas e os carros, todo ano sabe os temas das principais escolas assim que são divulgados e costura e cola seus próprios desfiles com seus Comandos em Ação.

Gustavo Burla