Pequenas mãos gordinhas desajeitavam-se com os lápis número dois pretos quando sentiram-se pela primeira vez. Ela chegou atrasada e todos a viram sentar-se ao fundo enquanto a mãe pedia desculpas à professora. Não se incomodou com os olhares, ou com o dele, e pegou o livro de exercícios.
Há sempre um fatídico dia em que as turmas se desfazem e cada um segue seu rumo para os estudos de ciências, de biologia ou de anatomia. Ela e ele ficaram em turmas separadas do mesmo colégio, horários diferentes do mesmo pré-vestibular, cursos diferentes em faculdades afastadas. Diplomaram-se em anos distintos e estagiaram em cidades distantes.
Escreviam-se, falavam-se, viam-se e empregaram-se para viverem sob o mesmo teto onde criaram os filhos que levavam diariamente à escola. As crianças cresceram, namoraram, tiveram filhos e os dois do início da história foram avós de mãos dadas e felizes até que as mãos magras não seguravam mais os lápis número dois pretos.
Doente é quem pensou que poderia ser diferente.
Gustavo Burla
Doente é quem ignora essa beleza que há na vida. Lindo!
Lindo o texto!
Que presente ler um texto tão singelo assim no fim do expediente… Dá até pra sair daqui com um sorrisinho no canto da boca!