Category Archives: Táscia Souza

Com todos os ites que se possam imaginar.

Casa de chá

Casa de chá

Viu que tinha demanda e montou uma pequena mercearia especializada em chás. Claro que havia os exóticos, como o de manteiga do Tibete ou o chá amarelo chinês, conhecido como um dos mais raros do mundo. O que saía mais, no entanto, eram mesmo os mais comuns: o de panela, para quem não tinha chaleira; o de casa nova, para quem quer experimentar uma mudança de sabor; o revelação, cuja cor era uma surpresa reservada à infusão; o de bebê, geralmente feito a partir de partes mais tenras e servido latte; o de fralda, limpa ou suja, ao gosto do freguês.

Táscia Souza

(in)Censo

(in)Censo

No apartamento habitavam cinco bocas — a do morador e quatro do fogão —, mais sete panelas e quatro frigideiras, o que implicava muito mais possibilidade de cocção do que estômago e muito mais utensílios para levar ao fogo do que espaço para cozer.

Ou vontade de fazê-lo.

Quando chegava do trabalho, panelas e frigideiras permaneciam no paneleiro e a trempe preferida — todo mundo tem a sua; a dele era a da frente à direita, ao lado da pia — era acesa apenas para fazer o mesmo pelo aromatizador de ambiente com cheiro de canela que prometia inibir o apetite e a vontade de comer por impulso.

Cansado como estava, impulso ele não teria mesmo, mas pelo menos o fogão, a não ser pelas cinzas, permanecia limpo.

Táscia Souza