Category Archives: Hupokhondriakós

69 anos

69 anos

Durante 32 anos falou que morreria do coração aos 42. Foi uma visão.

Ninguém acreditava na visão.

Viveu 32 anos ouvindo: de onde tirou isso? tem histórico na família? como é sua saúde? se alimenta bem? que balela!

Passou 32 anos pesquisando. A metodologia variava com a idade.

No dia em que fez 43 anos, vivo ainda, argumentou com fundamentos: 69!

Gustavo Burla

Quebranto

Quebranto

Na parede da minha casa tem um quadro de um menino tomando chuva. Cá fora está uma seca danada, e um frio danado, mas lá dentro ele veste bermuda, camiseta, e pula descalço sobre a poça d’água, sob a chuva. “Vai constipar, menino!”, às vezes penso, embora saiba que chuva não constipa ninguém, nem por baixo, nem por cima. “O que faz gripar é vírus, não chuva”, diz o médico. “O vento vira é no bucho, não no tempo”, atesta a benzedeira. Ainda assim, temo pelo menino na friagem dos caquinhos de azulejos azuis e brancos de que é feita a chuva. Temo por ele lá, na paralisia do quadro onde não há vírus que ventam, nem há ventos que viram, mas também jamais faz sol.

Táscia Souza

E o vento levou…

E o vento levou…

Foi acordado de madrugada por uma porta batendo. Levantou, fechou todas as frestas de janelas e basculantes, atrasou o despertador meia hora e dormiu com a boa solução para o dia seguinte.

Todas as manhãs via-se entre caminhar uma hora para o trabalho ou dirigir no engarrafamento por uma hora até o trabalho. Naquele dia levantou, tomou o café sem pressa, conferiu o alinhamento da rabiola e prendeu-se à pipa.

O vento da varanda o içou e chegaria ao trabalho, pelos cálculos de velocidade e direção, em poucos minutos.

Se não tivesse sido laçado por um apressado pipaboy entregador de cestas de café da manhã.

Gustavo Burla