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Encontro da turma

Encontro da turma

Trinta anos depois da formatura, a turma resolveu se reencontrar. Festa de dia inteiro em salão reservado. Ele era o único, entre os homens, que não estava careca.

— Lembra quando o Júlio brincou que só fica careca quem é preguiçoso, porque se colasse os fios que caíssem…

— Você cola!?

— Como.

Gustavo Burla

Por um fio

Por um fio

Ela nunca havia perdido um único fio de cabelo. Nunca, nenhum sequer. Por volta dos cinco ou seis meses de vida, quando o bebê que nasceu cabeludo passa, como um pequeno cão ou um gatinho, por uma espécie de muda, seus fios então fininhos, ao contrário, permaneceram intactos. Ao longo dos anos encorparam-se, é claro, mas se sabe lá de que jeito, sem que qualquer mecha se desprendesse para dar lugar a penugens arrepiadas e novas. Era como se, em vez disso, as fibras capilares, as mesmas desde o nascimento, tivessem, como o resto do corpo, ganhado massa, peso, músculos; como se, cheias de calorias de xampus e condicionadores, tivessem engordado e deduplicado não apenas de comprimento, mas de espessura.

Mas cair? Não. Nenhum fio arrancado pelo elástico retirado de qualquer jeito do rabo de cavalo. Nenhum resquício na escova que corria pelos cabelos cem vezes toda noite antes de dormir. Nenhum vestígio nos ombros de casacos e blusas. 

Mesmo o ralo do banheiro jamais entupiu. 

Achou que estivesse morrendo, portanto, quando acordou uma manhã e um único fio, longo e escuro, jazia em S sobre a fronha do travesseiro. Foi como se lhe tivessem amputado um membro enquanto dormia. Como se uma parte dolorosamente sua já não o fosse mais.

Imediatamente levou as mãos ao couro cabeludo tateando em busca do buraco deixado no lugar do bulbo capilar vazio. Bem no alto, no cocuruto, a inédita ferida latejava. Não era só um fio de cabelo; era a vida inteira que conhecia. 

Táscia Souza

Tudo tem seu tempo

Tudo tem seu tempo

Na escola, colecionava quadrinhos. “Cara, mas cê vai ler tudo isso quando!? Não vai conseguir estudar!” Tudo tem seu tempo.

Na faculdade, buscava diversidade de conhecimento em todo tipo de revista. “Cara, mas cê vai estudar quando se ler isso tudo!?” Tudo tem seu tempo.

Desde pequeno, inclusive por colégio e faculdade, juntava os livros que pareciam interessantes. “Cara, cê vai ler isso nunca!” Tudo tem seu tempo.

E o tempo chegou. Pandemia, todos em casa, reclusos. Ele no quarto, cercado de papel, quarto exclusivo de acúmulos da vida. Café, rosquinha e uma página de cada vez com música instrumental de fundo. Toca o telefone: “Cara, cê já viu quanta coisa maneira tá rolando nas lives!?”.

Gustavo Burla