Os jornais noticiam guerra. Guerras. Na Ucrânia. Na Somália. Na Síria. No Iêmen. No Twitter. No WhatsApp. Na política. Na eleição. Na verdade. No cinema. Na tevê. Na Eslovênia. Na quebrada. Na UBS. Na UTI. Na festa lotada. Na cabeça da escritora que não sabe mais escrever ficção.
Na Rússia. Na rua.
Na rua só não tem carnaval.
Táscia Souza
Ela: encontrou o amor da vida.
Ele: fez um bolo de cenoura com cobertura de chocolate pra comemorar um mês de namoro, receita de família (mentira, viu na Rita Lobo)
Ela: celíaca, diabética e omissa, detestava cenoura.
Ele: partiu um pedaço cheiroso, calda escorrendo quente, narrador com água na boca (esqueceu dos parênteses).
Ela: morreu de amor.
Gustavo Burla
Na minha cidade de morros, há um morro em que se morre mais. Garganta da qual se arranca a língua da avenida que nos encolhe, nos engole, nos tritura, nos cospe de volta em farelos de luz.
Na minha cidade de morros, as luzes que morrem lá embaixo ou lá em cima são resto de gente. E até o Cristo, em seu próprio morro, morre sem abrir demasiado os braços, porque na minha cidade de morros nem para morrer há redenção.
Se te mandar um postal dos morros da minha cidade de morros, rabisco apenas, ligeiramente inclinado:
não morras
não venhas
Táscia Souza
